Este artigo aborda os conceitos de SOBRE-endividamento.
Aqui tento esclarecer quais os nossos sinais de alerta.
Olhar para os outros é mais fácil do que vermo-nos ao espelho.
Era uma vez… dois irmãos gémeos: o João e o Paulo.
Para simplificar, conheceram duas irmãs gémeas e com elas casaram no mesmo dia, e tiveram o mesmo número de filhos, etc.
Para melhor comparar, ambos os irmãos ganharam o mesmo ao longo da vida:
1 000 € por mês.
Os sortudos tinham pais que podiam ajudar e como prenda de casamento pagaram a ambos metade da casa. Ambas as casas valiam 100 mil € cada uma.
Ambos ficaram a pagar os restantes 50 000 € da casa em prestações durante trinta anos.
Enfim tudo igual… Exceto:
Ambos compraram carros idênticos a crédito.
O João pediu um crédito automóvel (ALD ou leasing), a uma boa taxa de 10%.
O Paulo pediu um reforço no crédito habitação à taxa de 5%, e aumentou a dívida que os pais já tinham pago.
Ambos pediram um crédito para mobilar os quartos dos bebés.
O João pediu um crédito pessoal com uma taxa de 20%.
O Paulo voltou a endividar-se na casa.
Agora a casa, que já teve metade paga pelos pais, estava quase toda hipotecada.
O Paulo já devia 90 000 € da casa. O novo empréstimo custava-lhe também 5%.
O João já era dono de metade da sua casa.
No total devia 50 000 € da casa, 25 000 € do carro e 15 000 € do crédito pessoal.
No total o João devia 90 000 €.
O Paulo, que já tinha sido dono de metade da casa, agora devia de 50 000 € do crédito habitação, 25 000 € do crédito habitação multiopções e 15 000 € do crédito habitação reforço.
Ou seja, devia 90 000 € da casa de 100 000 €.
Já não se pode dizer que fosse dono da casa.
O João só teria de pagar metade da casa e o Paulo tinha de a pagar quase toda!!!
Nos mesmos 30 anos!
O João pagava as seguintes prestações:
Casa 250 €, carro 250 €, crédito pessoal 250 €, num total de 750 € por mês.
O Paulo pagava só uma prestação da casa: 500 € por mês.
Veio a crise e ambos e as esposas perderam os empregos.
O João tinha dificuldades em viver com os 250 € que lhe sobravam cada mês.
Devia 90 000 €! Bom, pelo menos era dono de metade de sua casa!
Ao Paulo sobravam-lhe 500 € por mês!
Também devia 90 000 € da casa que valia 100 000 €.
Não se pode dizer que a casa fosse dele.
Mas conseguia cumprir as obrigações contratadas com os bancos.
Concluindo:
Não é a quantidade de dinheiro em dívida que interessa.
O que é importante é a capacidade de pagar as prestações contratadas com quem nos emprestou o dinheiro.
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O João deve 90 000 € e … ESTÁ sobre-endividado!
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O Paulo deve 90 000 € e… NÃO está sobre-endividado!
João PM de Oliveira, Consultor
Estratégias na R€-estruturação de Passivos